A publicação nos social media diverge do ciclo diário dos órgãos de comunicação social e quanto mais pessoal a comunicação se torna, mais se acentua a divergência.
Esta é a minha mais imediata conclusão de um pequeno estudo que levei a cabo e cujos resultados se sintetizam no gráfico abaixo com o ciclo diário de publicação. Nele podemos seguir as três curvas e a sua distribuição ao longo do dia: a azul as notícias nos mainstream media (MSM), a verde os posts na blogosfera e a vermelho os tweets no Twitter.
É fácil perceber que o ciclo dos blogs — um meio social que se caracteriza por ser sobretudo opinativo — segue colado ao ciclo dos noticiários, com um intervalo típico de uma hora de "atraso". Os bloggers tendem a comentar a actualidade e esta é-lhes fornecida (ainda lhes é fornecida…) sobretudo pelos órgãos de comunicação social.
Mesmo as duas vezes em que a linha verde ultrapassa a azul — isto é, quando a frequência de publicação em blogs é superior à frequência de publicação em MSM — acentuam a interpretação: a meio da manhã e a seguir aos noticiários televisivos prime time, ou seja, reagindo a maiores doses de informação para digerir sob a forma de comentário, opinião, acrescento, rectificação.
Mas à medida que o meio se torna menos opinativo e tende para o conversacional esta colagem atenua-se, se é que não desaparece mesmo. O ondulado da linha vermelha tem mais a ver com os horários das pessoas, não estando sujeito à "ditadura do noticiário". Não cheguei a isolar, nos dados do Twitter, as fontes automáticas das humanas; penso que sem a influência dos automatismos, que replicam na twitosfera as publicações da blogosfera e da mediaesfera, a curva vermelha se afastaria um pouco mais, ainda, da curva azul.
Intrigante é o duplo pico da meia noite. Naqueles 60 minutos entre as 00:00:00 e as 00:00:59 há um verdadeiro despejo dos MSM para dentro da Internet. Este explica-se facilmente: jornais como o Correio da Manhã e o Diário de Notícias libertam a essa hora as notícias das edições de papel que estão a sair das rotativas, influenciando a curva. Mas penso ser abusivo interpretar o pico dos blogs à mesma hora dentro da lógica da reacção opinativa às notícias. Na falta de melhor explicação, será assim tão grande a quantidade de bloggers que deixa posts agendados para a meia noite, como já me foi sugerido?
A observação da blogosfera desde 2003 leva-me a ser prudente. Talvez este pico se deva, isso sim, àquela parte dos bloggers que nem sequer está particularmente interessada em comentar a actualidade; os blogs diarísticos, os blogs virados para interesses como a puericultura, a música, etc. Este "turno" pega ao "trabalho" a partir das nove da noite e até à uma da manhã, com os miúdos já na cama e a casa mais sossegada, tem então o seu tempo recreacional. Embora a lista dos 520 analisados tenda a incluir em especial os blogs mais lidos, que são os opinativos, nem estes são "puros", nem a actividade de publicação dos outros diminuiu por terem sido ultrapassados no que respeita ao tamanho das audiências.
Enfim — aguardo os contributos dos leitores, no sentido de interpretarmos melhor este tipo de dados, publicados pela primeira vez.
O quadro com os três ciclos ajuda-nos a estudar melhor o funcionamento colectivo dos diversos agentes da infoesfera. A curva fornece elementos de análise importantes, como é o caso das horas em que existe maior presença humana na rede, tanto passiva (leitor) como activa (editor). Já a questão da distribuição da atenção das pessoas, que é um recurso limitado — e o recurso disputado… –, fica para outro tipo de data mining. Uma interrogação pertinente: será que o potencial viral das redes sociais segue a curva do tamanho da audiência instantânea? (hint, ainda antes de publicar dados em próximo artigo: não, é totalmente diferente!).
A recolha de dados foi efectuada ao longo dos últimos meses. Desde Abril de 2008, foram analisados 622.293 micro-posts, ou tweets, de 3.552 contas no Twitter; desde Novembro desse ano fiz a contabilidade a 53.690 posts publicados por 520 blogs e a 74,776 notícias publicadas por 12 órgãos, incluindo televisão, rádio, imprensa diária, não diária e edição web.
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